sábado, 1 de junho de 2013

Alguém,

Eu gostaria de começar essa carta dedicando-a a alguém. Aprendi nas aulas de redação que toda carta deve ter um destinatário (e algumas coisas não mudam). O destinatário dessa carta é alguém. Alguém que possa me ler, alguém que esteja pronto para me dar um apoio ou fingir que me entende. 
Eu mal sei por onde posso começar. Eu mal sei se quero começar. Querido alguém, o tempo tem sido meio cruel comigo. Eu não me reconheço. Eu tenho um certo medo do que eu posso me tornar. Acredito que eu sei de mim muito menos do que eu sou, mas de algo eu sei e tenho certeza: sou um universo de possibilidades. De dez caminhos que posso seguir... Posso escolher qualquer um deles. Talvez eu não tenha princípios tão rígidos a ponto de descartar alguns caminhos. Para mim, qualquer caminho é caminho. E isso me assusta de uma forma quase que enlouquecedora. Poderia não pensar no futuro. Tenho uma amiga que vive a repetir "o futuro é agora" e eu sempre respondo "verdade, mas..." e aí me calo. Ela até tem alguma ideia do que quer ser. Ela quer casar, morar numa casa grande, ter cachorro e alguns filhos. Eu até quero isso também, mas eu penso que talvez seja mais divertido ser sozinha. Mas sozinha de uma maneira suja e porca. O mais correto seria: Eu posso ser solitária. Eu sinto que meu futuro será abraçado à solidão. Mas eu não quero a solidão. Penso que será inevitável. Mesmo se eu casar, mesmo se tiver dez filhos e cinco cachorros... Não poderei fugir da solidão. Porque a solidão é algo de dentro, é um conforto que não se recebe e é uma dor que não se cura por coisas externas a si.
Alguém, eu queria fugir do assunto de solidão, mas parece que isso não sai de mim. Eu queria exteriorizar uma outra coisa que me atormenta as noites e a minha própria existência. Tenho sofrido (e quando digo sofrido não é exagero, porque não há palavras para exagerar o meu sofrimento) por saudade. Engraçado que desde o meu primeiro ano, quando eu nem ao menos sabia o que era morte, o que era perda e o que era saudade... eu já era marcada por isso. Vez ou outra a vida acha engraçado me tirar o chão e me fazer sofrer de saudade tantas outras vezes. Por que isso? Eu tento me perguntar se todas as pessoas também sentem a dor da perda e da falta tão à flor da pele quanto eu. Tento me convencer que sim, até perguntar a alguém "você sente muita saudade de alguém? A ponto de te faltar o ar? De arranhar o peito? De querer fugir de si próprio?" e a pessoa responde "Eu não". Mas então... por que eu tenho que passar por isso tantas vezes? Não é a primeira e, infelizmente, provavelmente, não será a última. Quando eu estou muito feliz com alguém, paro pensar que em algum momento isso vai acabar. Que algo de ruim vai acontecer e vai destruir toda a felicidade. Por isso que eu tenho medo da felicidade de se ter alguém ao lado. Porque ele vai sempre embora. Ele vai sempre partir. Ele vai sempre me deixar... sofrendo. Sozinha.
Alguém, eu me sinto muito mal por escrever isso. Não pelos sentimentos, na verdade. Mas por me achar a garota mais idiota do universo. Eu sempre escondo tudo de mim mesma, porque eu me acho uma besta por sentir demais. E de tanto sentir, eu sinto nada. Sou um poço cheio de vazio.

Assinado: Eu.

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