quinta-feira, 21 de março de 2013

- Você acha que eu sou otária? É óbvio que eu nunca deveria ter aceitado namorar com você. Sempre cheio de galanteios. Sabia que era assim com todas. Aliás, com quantas você já ficou nesses 2 meses que ficamos juntos?
- Mas eu... 
- Não, Leonardo. Não precisa falar. Eu sabia! Minhas amigas falaram tanto para mim "ah, ele não serve pra você" e eu, burra, não ouvi. Claro, estava apaixonada e cega. 
- Mas... - Fui interrompido outra vez.
- Você vai querer inventar desculpas? Me esqueça. - Pensei em falar algo, mas sabia que acabaria no "mas" novamente, quando ela começa a falar, não adianta querer discordar.
- Ah, agora ficou calado, não é mesmo? Sabe que eu estou certa... Ah, não, agora é sério. Tchau! E quer saber? Quando você vier atrás de mim, eu vou estar muito bem sem você e falarei "Agora não, Leonardo". E você vai chorar sozinho. - Ela bateu a porta da minha casa e se foi. Foi tudo tão de repente e eu não entendi nada. 
- Mariana? - Abri a porta e gritei. 
- Leonardo, está tudo acabado entre nós. Não me procure mais! 
E, bom, foi assim então que ocorreu o término do meu namoro que durou apenas 2 meses (apesar dela falar como se tivesse durado uma eternidade). E é óbvio que eu não vou falar que eu sou santo, algo eu realmente fiz. Mas eu queria explicar que não foi por mal e é a minha arte. 
E que arte é essa?
Eu desenho mulheres nuas.
E ela não sabia? 
Não. Porque eu não trabalho com isso, é óbvio. Eu faço por lazer e eu nunca mostrei para ninguém. 
Por que mostrou a ela então?
Esse é o problema. Eu não mostrei. Eu fui comprar pão na padaria e quando voltei, ela estava mexendo nas minhas coisas e encontrou meus desenhos.
Como você reagiu?
Eu me senti invadido. Mas não tinha nada a se fazer, então eu perguntei:
- E aí, Mariana? Tenho talento, não tenho? - E ela me olhou com um olhar terrível.
- Você desenha outras mulheres nuas e eu devo ver isso como talento? Descarado! - E eu realmente fiquei descarado, pela falta de cara com que ela me deixou. Foi então que eu percebi que a Mariana não tinha nada a ver comigo. Como ela teve ciúmes da minha arte? Tudo bem que eu desenho mulheres reais do meu dia-a-dia. Professoras, amigas de faculdade, caixa do supermercado, diarista que faz faxina na minha casa duas vezes ao mês, e outras mais. Mas isso não quer dizer que eu tenha desejo sexual por elas e, muito menos, que eu já as tenha visto nuas. É a minha maneira de exteriorizar a minha admiração pelas curvas femininas, somente isso. Gosto de permitir o lápis deslizar sobre o papel, gosto de deixar minha imaginação criar. Eu observo as mulheres que encontro e imagino como elas devem ser nuas. As curvas são fáceis, já que dá para ver através das roupas. Os volumes também. E o resto... é só imaginar. Eu gosto. Me relaxa e nem por isso eu sou um maníaco ou um descarado (como acha a Mariana).
Leonardo, desculpe-me, mas podemos continuar essa conversa na próxima consulta? Já são 19 horas.
Nossa, é mesmo! Como o tempo passou rápido. Até mais, Alessandra. 
Só uma pequena curiosidade... Você já me desenhou?
Não, mas obrigado pela sugestão. Boa noite!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Em uma dessas madrugadas chuvosas, eu fiquei perambulando pela casa, com as luzes apagadas e pensando na minha vida. E eu repetia mil vezes mentalmente "Não, Fernanda, tem algo errado. Tem algo muito errado nisso tudo". Mas eu buscava respostas, eu queria entender onde eu estava errando e o que de errado tinha em tudo o que eu estava fazendo, a ponto de eu perder o sentido em tudo o que eu faço. Tinha algo muito errado antes de eu me dar conta, mas deixei crescer e nem ao menos percebi que poderia ser destruidor. Começou com a identificação com personagens problemáticos de filmes e explodiu com a minha mãe reclamando e dizendo que eu estava me destruindo. Mas por quê? Por que todo mundo percebe o que tem de errado comigo e eu não? Parei pra pensar e me questionei durante a madrugada toda. Ao invés de respostas, só ganhei mais dores. Pensei, então, que eu estava enlouquecendo. Mas, não, não estava! Não permitiria que seria algo tão de repente. E aí eu me senti como se estivesse sendo trancada dentro de mim mesma, como se eu apertasse a minha própria garganta e abafasse meu próprio grito. Tentei chorar, já que sempre ouço dizer que chorar alivia. Mas como viver sendo alguém que não chora? Eu simplesmente não consigo chorar quando eu mais preciso liberar lágrimas. E eu me sentia como se alguém tivesse me amarrado uma âncora no meu pé e tivesse me jogado em meio ao alto mar. E eu fosse afundando, perdendo o ar e... morrendo aos poucos. Mas eu repetia loucamente em um ritmo cada vez mais frenético "Tem algo de errado nisso tudo. Muito errado!". Resolvi desabafar. Falei tudo de errado que eu estava sentindo, tentei me explicar os meus próprios motivos em voz alta e calando por motivos que me davam vergonha. Porém permaneci, continuei falando e prometi a mim mesma que eu não chegaria nesse nível novamente tão cedo. Eu sempre busquei paz. Eu sempre busquei ser feliz. Por que, então, dar ouvidos aos meus fantasmas? Deixe-os esquecidos. Fechei os olhos e procurei imagens de pessoas que me fazem bem, de momentos que me dão saudade e de coisas que pretendo viver. E falei pra mim mesma "E por tudo o que eu quero viver, eu me reencontrarei dentro de mim mesma. Porque essa não sou eu. Essa é alguém que eu não reconheço e nem ao menos quero conhecer. Alguém desprezível e extremamente dolorida. E eu não quero dores, não quero tristezas e nem tantas angústias". Fechei os olhos, apertei meu travesseiro e dormi. Depois de pôr tudo para fora, dormi tranquila. Estava leve, estava como uma folha dançando ao vento ou um balão subindo em direção ao céu. Eu me sentia crua e nua. Me senti uma folha em branco pronta para ser pintada novamente e de uma maneira diferente. 
Acordei, tomei um banho, me perfumei e coloquei um vestido vermelho tão leve que dava vontade de dançar pela rua. Arrumei meu quarto e dei a ele meu toque cor-de-rosa. Organizei meus livros em ordem de tamanho e coloquei meu pequeno rádio para tocar música clássica. Me senti rejuvenescida e livre das amarras que eu mesma criei para mim. 
Não que os fantasmas não tenham voltado. Eles voltaram. E talvez essa será uma luta mais complicada do que parece, mas eu já sei o que eu quero. E estou no caminho certo. Aos poucos, estou me desprendendo e buscando liberdade de alguma forma. Não quero envelhecer antes mesmo de construir uma vida saudável e botar tudo a perder. 
Descobri, então, que ter sonhos é fundamental. 
São os sonhos que te levam para frente quando tudo parece querer te parar. E meus sonhos são pequenos, mas são nobres. Quero um amor para dormir junto, casar de branco e ter três filhos lindos. E, claro, eu quero continuar com meus brilhos nos olhos que perdi por um momento e sorrir. Sorrir como se não houvesse amanhã. Sorrir para o mundo, sorrir porque estou viva e porque eu sou eu. Sorrir, apenas. 
E foi isso que me motivou a dar a volta por cima.
Que assim seja!