segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Certas coisas eu não entendo. E pra ser sincera, não me esforço muito para entender. Porque são valores que eu prefiro não ter. Pra mim as lembranças devem ser respeitadas e, mais que isso, revividas vez ou outra. Eu entendo quando certas coisas morrem, mas não entendo essa regra de que tudo tem que sempre morrer. Eu entendo que eu e você morremos, e morremos há muito tempo atrás. Antes que você fizesse parte do meu passado, você já era meu erro, você já era um morto por entre as coisas vivas da minha vida. Mas relembrando do que nós fomos, forma-se um nó na garganta, no peito e em mim toda. Eu me pergunto o que diabos você fez com tudo isso, se você também pensa em mim ou se você também se faz nós. Eu estou me saindo muito bem sem você. Eu até me esqueci de muitas das coisas entre nós dois. Eu me esqueci o que eu sentia por você, eu me esqueci como era dizer que te amava ou até mesmo como era te amar. Eu esqueci tudo isso. E quando alguém me pergunta sobre você, eu tento me lembrar de como era e pouco consigo lembrar. Mas lembro muito bem das boas lembranças. De como eu cresci e amadureci ao seu lado. 
Eu fui boba. Eu continuei te amando, ou achando que. E você foi um bom jogador, você soube me usar de uma maneira surpreendente. Você beijava meus lábios quando estava sozinho e me ligava quando a noite caia, mas pela manhã, você corria para o colo de outras. E, sabe? Te fiz mancha. Mancha do meu passado. O babaca que você virou, a pessoa tão errada e tão desinteressante não me pertence e eu não quero que eu pertença a alguém tão medíocre. E os meus dias agora estão cinzas. Sim, estão! Mas os seus um dia serão piores. Não lhe jogo praga ou seja lá o que for. Mas eu gosto do senso de justiça. Eu gosto da ideia de que você colhe o que planta. E se você fez tudo ficar horrível pra mim, se você me fez chorar noites e noites, se você me fez ficar madrugadas em claro por causa de um coração partido, se eu me senti caindo num precipício por causa de você, nada mais justo que você sinta isso também. E um dia você irá. Eu não vou ficar sabendo de nada disso, eu não vou saber que você está chorando. Até porque, como diz Marisa Monte: "O que me importa seu carinho agora se é muito tarde para amar você? O que me importa se você me adora se já não há razão para lhe querer? O que me importa ver você sofrer assim se quando eu lhe quis você nem mesmo soube dar amor? O que me importa ver você chorando se tantas vezes eu chorei também? O que me importa a sua voz chamando se para você jamais eu fui alguém? O que me importa essa tristeza em seu olhar se o meu olhar tem mais tristezas para chorar que o seu? O que me importa ver você tão triste se triste fui e você nem ligou?"

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Selvagem. 
Assim era Alice. Menina do nome suave. Doce. 
Ela era selvagem, porém suave como seu nome. Quase não tinha medos, e o único que tinha era de um dia perder sua personalidade por algum beco escuro dessa vida. Mas disso, todos que a conheciam sabiam muito bem que ela nunca perderia. E seria sempre assim. 
A conheci por aí, andando como quem acabou de chegar num lugar onde nunca esteve. Mas ela tinha uma certeza tão clara no olhar, que eu tinha ciência que, por mais "estranha" que ela estivesse, ela não se perderia. Seus cabelos estavam soltos. E de longe, parecia um leão que escapou de um zoológico e anda livremente pela cidade. Aquele loiro que só é dessa cor por causa do sol, porque na verdade é um castanho claro. Naquele dia, ela usava um vestido longo, verde e estampado. O vento batia, e o cabelo se espalhava, e o vestido levantava. Algo naquela menina me despertava um interesse que nunca mais tinha sentido desde o meu passado relacionamento fracassado. Ela não tinha nada parecido com nenhuma das meninas com quem eu tinha me relacionado antes, e isso era fantástico. 
Eu, vestido da maneira mais formal possível, após sair do meu escritório no Centro, naquele inferno... "Talvez eu deva chamá-la pra tomar um café ou talvez comer uma pizza". Ela parou numa lanchonete.
-Deseja alguma coisa? - Tomei coragem e falei. 
Ela me olhou de cima a baixo e deu uma risada tão delicada e sincera, que... -E você trabalha aqui, é? 
-Na verdade, não. 
-Então o que te interessa saber o que eu desejo? - Ela perguntou com a mesma fisionomia risonha e desafiadora de antes. 
-Porque... talvez eu possa lhe oferecer alguma coisa.
-Legal! Eu aceito. 
-Um café? Um suco? Um pão de queijo? 
-Um guaraná natural serve. 
-Ótimo! 
E, logo começamos a conversar sobre o que fazíamos da vida. Eu não entendi muito bem o que ela fazia, parecia ser nômade ou cigana. Não! Ela trabalha com Artes. Na praça, talvez. Não, na praia. Hã? Não entendo nada que ela diz. Ela fala muito, e eu não consigo prestar atenção em nada mais além daqueles olhos penetrantes. Ela parece ter o sol nela. Cheia de vida. 
Ficamos por muito tempo naquela mesa, até que, subitamente, ela para e fala:
-Eu vou embora.
-Mas já?
-Claro! Já deu minha hora.
-Ah, tudo bem. Foi um grande prazer te conhecer.
-Sim, concordo. Que o universo lhe reserve coisas maravilhosas.
-Universo?
-É. Poxa, eu esqueci de te falar sobre o que eu penso do universo. Mas não tem problema. Nos vemos amanhã. 
-Será maravilhoso. Posso anotar seu número de celular? 
-Poderia. Mas eu não gosto dessas tecnologias. Não tenho celular. Mas eu apareço aqui amanhã às 18 horas. Pode ser?
-Pode.
E assim, da forma mais estranha possível, nós mantínhamos um contato. Me senti vivendo em uma realidade paralela, e às vezes eu me pegava imaginando se aquilo realmente estava acontecendo. Eu me sentia tão em paz com ela. Aquelas viagens que ela fazia, aqueles planos que ela dizia, aquelas ideias loucas que eu sempre quis ter e, ela era, de fato, muito criativa. Nunca me sentia entendiado quando estava com ela. Vez ou outra ela me enfiava no meio de uma floresta qualquer, onde tinha umas cachoeiras e uns riachos que nunca tinha visto na vida. E ela parecia conhecer tudo aquilo como a palma da mão. E eu me sentia livre. Me sentia selvagem. Como um tigre ou um macaco, talvez. Às vezes eu a levava ao cinema para comer pipoca. Nós fomos felizes. Realmente. Até que numa tarde de sábado, no mês de agosto, ela chegou com uma saia longa azul e uma blusa simples branca. 
-Sabe, vou embora.
-Nos vemos amanhã, então?
-Não, você não entendeu. Eu vou embora mesmo.
-Pra onde?
-Não sei. Talvez eu vá pro Hawaii, eu procurei algumas coisas de lá e eu gostei das praias, parece ser divertido surfar por lá. - Ela falou com um brilho no olhar.
-Mas... 
-Se bem que eu acho que eu vou pra Índia, eu gosto mesmo de lá. Não sei porque, mas eu gosto. Ou vou pra Austrália, me disseram que lá tem canguru. E eu nunca vi um. - Ela abriu um daqueles sorrisos lindos dela.
-Você está falando sério?
-É, acho que sim. Legal, né?
-E eu? E nós?
-Ué. Você continua sendo você. Eu continuo sendo eu. E nós continuamos sendo nós. Certo?
-É... Então você vai embora mesmo?
-Sim. Fiquei aqui por muito tempo. Eu preciso sair dessa cidade grande. Não combina comigo, entende?
-E você vai ficar sempre indo de um lado pra outro?
-É. Como um macaco, que vai de árvore em árvore. Deve ser chato permanecer num lugar só, tendo milhões de oportunidades por aí afora.
-Certo... 
-O universo vai te reservar coisas boas. Já lhe disse isso várias vezes.
-Eu não ligo pra universo. Eu ligo pra você.
-Como não? O universo é uma coisa linda! Você realmente não sabe do que está falando. 
-Tá bom, então vou casar com o universo.
-Não se casa com o universo, seu bobo!
-Nem contigo?
-Comigo também não. Eu quero ser livre. 
-Então... vou sentir saudades. Muitas. - Eu disse enquanto tentava segurar as lágrimas.
-Por que você se apega tanto assim?
-Porque eu tenho sentimentos.
-Eu também tenho. Mas eu não acredito nisso de posse. Ninguém pertence a ninguém. Nós devemos nos sentir livres. 
-Só peço para que não se esqueça. De nada.
-Posso ser esquecida com muitas coisas, mas eu costumo guardar boas lembranças. Traz bons sentimentos. - Ela sorriu e me deu um beijo. - Estou indo então. Foi bom. Foi tudo muito bom! 
-Aposto que sim. 
E então, ela se foi. 
Nunca mais a vi, não sei onde ela está. Se está no Hawaii, na Índia, na Austrália ou na esquina. E isso me angustia um pouco, mas eu aprendi que devemos ser leves e livres. Então que ela seja assim. Uma eterna folha ao vento. Um pássaro. Uma eterna criança. De mágoas não guardei nenhuma, mas guardei todas as lembranças boas de nós dois. E eu espero, que de uma forma ou de outra, ela se lembre de mim. 
Alice. 
Doce.
Suave.
Selvagem.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O tempo passa mais rápido do que o tempo que eu paro para me dar conta disso. De um em um dia, passou-se um mês... e de nada adianta. Perdemos nossos dias a toa, como se fôssemos viver para sempre, como se o mundo parasse para nós termos um tempo de descanso. Mas não, nada disso acontece, e o tempo voa. Eu gostaria de abrir os olhos de algumas pessoas e falar: "Acorda, criança, essa é a sua única vida, e o tempo está passando, hoje é hoje e não voltará mais amanhã... Viva e aprenda que é de cabeça erguida que se vive a vida."
Algumas pessoas parecem viver apagadas, e que precisam de alguém com coragem suficiente para sacudi-las e mostrar que tudo é passageiro, e que devemos aproveitar o que temos. Alguém que lhes abrirá os olhos e mostrará que se deve sempre seguir em frente, independente do que possa vir a acontecer. E que não tem motivos de abaixar a cabeça para ninguém, pois você é você, e amor-próprio é o mínimo que se deve ter.
Confie em si mesmo e sempre haverá motivos para sorrir.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Fiz de meu coração, tripas. Sinto como se algo dentro de mim fosse esmagado cada vez mais e mais, e minha vontade de sair gritando e fugir torna-se constante. Algo morreu em mim, porém deu lugar a uma nova situação, a um novo momento. Não que ele seja algo bom, pelo contrário. Agora entendo o desespero de um artista ao falar de amor, agora entendo tudo o que dizem sobre dor e amor, e sua rima e combinação. Sinto-me como se eu estivesse com um profundo buraco em meu peito, como se algo muito importante me foi tirado... e de fato foi. Lembro-me de tudo desde o primeiro momento, infelizmente. Ou felizmente, não sei ao certo. Lembro do cavalheirismo que me conquistou e, não apenas isso, sua aguçada inteligência e aparente maturidade. Sim, eu tinha a impressão quase certeira de que suas atitudes não correspondiam a sua idade. Tornei-me então, admiradora de tudo o que você dizia, e me sentia na vontade de te fazer surpreender com a minha personalidade e inteligência. Eu sabia do que eu era capaz de fazer, e assim o fiz. Não queria me entregar a nada e nem a ninguém, minha alma sagitariana, livre e solta não permitia que alguém pudesse me fazer vulnerável. Mas tão vulnerável quanto todas as outras, me vi apaixonada. E então, quando se está nessa encruzilhada, sabe-se bem que não tem como fugir, e que o único jeito é se entregar... e amar. Seu olhar em encontro ao meu era algo realmente apaixonante. Dava para ver amor, fogos e tudo o que tem direito numa cena perfeita de filmes românticos e bem água-com-açúcar. Comecei a ver sentido nessas coisas tão tolas, e me via sorrindo sozinha, e pensando o tempo todo nesse certo garoto tímido e desajeitado que me despertou interesse. Me sentia insana de fugir de casa, de manter um segredo para ir ao seu encontro, apenas para ver seu olhar apaixonado e admirado com a minha imagem. Tudo em mim estremecia, e sabia que aquilo era amor, apesar de não querer admitir de maneira alguma. E aquele caso que quase era um menage à trois, fez-me assumir os meus sentimentos, e deixá-los claros a quem quer que seja.
Em um certo dia do mês de março, desci as escadas, com uma roupa bem meiga, com um perfume que marcasse aquele momento, e fui ao encontro daquele mystérieux garçon que mexia com a minha seriedade. Sabia que aquele dia não seria apenas mais um dia em minha vida... poderia ser o começo de uma grande história de amor. Ah, l'amour... Uma carta de três folhas, com versos apaixonados, ilustrados por uma letra destorcida, foi essa a lembrança que me restou daquela singela tarde em que meus lábios tocaram os seus pela primeira vez. Algumas lágrimas de felicidade, um teto de vidro e uns idosos a nos olhar estranhamente. Talvez não fosse a melhor imagem a se ter quando se pensa de um momento marcante, mas nós fomos diferentes. Coisas como curvas, clones, carne, idosos e timidez diz muito o que foi aquela tarde. Doce é o amor. Até que o doce se estraga, passa da validade... e nos vemos no hoje. Nos vemos no adormecido amor que aos poucos o vento vai levando... e então, o que me resta é apenas lembranças de um tempo que não voltará. Suas palavras foram se empoeirando dentro de minha gaveta, assim como o brilho ficou no passado, em algum lugar antes do sol se pôr, antes de você cair no sono e antes que as cortinas se fechassem, me fazendo cair aos prantos, com um coração na mão, um lago ao meu redor, e um abismo enorme dentro de mim. Mon petit prince, mon pensieur, mon Peroni.